terça-feira, 3 de maio de 2011

Quadrilhas de antes e de hoje - Século XXI

Apresentação no Acre - Quadrilha Cafundó do Brejo 2010

Uma imensa nau entrou na quadra de apresentação das quadrilhas e surpreendeu mesmo quem já conhecia a capacidade da Beija Flor do Sertão de se reinventar. De outra feita, a Paixão Nordestina representou uma fábrica de dançarinos, e os quadrilheiros aos poucos iam ganhando vida & começaram robôs e viraram brincantes. Não, as quadrilhas juninas do final do século XX e do começo deste XXI não são mais como aquelas, que a gente costuma dizer, ``de antigamente``. Mais que vestidos de chita, cabelo com trancinhas e dente preto feito da casca da mandioca, elas agora são construídas com aparatos dignos de uma escola de samba carioca. Ou seja: o puro luxo, glamour e sedução.

``Daqui a pouco, as quadrilhas pequenas vão se acabar``, vaticina William Santos, marcador & o marcador, hoje, faz o mesmo serviço do antigo puxador, e, se já era importante nas tais ``antigas``, nas atuais é ele pode fazer uma quadrilha ganhar um prêmio. Também dançarino e coreógrafo, William anuncia, com um olhar preocupado, como os novos brincantes, de pequenas quadrilhas, estão se encantando com as maiores delas, assim que são reconhecidos por algum talento. André Ribeiro, ao lado do amigo, já não tem o olhar tão endurecido, mas mostra a mesma aflição. ``Eles fazem de um tudo nas pequenas, ficam bons naquilo e são chamados & ou procuram & as grandes``.


Hoje coreógrafo da Pé Quente, de Maracanaú, William emenda: ``Num grupo grande tem uma produção que a gente tem que fazer e pagar (cada brincante paga a sua própria indumentária) roupa, maquiagem, lente de contato. O povo quer ver isso``. Juliano de Andrade, coreógrafo, estilista e outra variedade de ocupações dentro da quadrilha Cumpade Justino, também de Maracanaú, concorda. ``O São João ficou muito restrito. Se a quadrilha é muito tradicional, só com passos e roupas tradicionais, ela não ganha em canto nenhum. O povo quer ver beleza``. Mas quer participar, também. William lembra que as músicas & antes conhecidas do público, como os clássicos do Gonzagão & hoje são compostas para cada apresentação.


``Quando as quadrilhas iam para dentro das quadras elas tinham problemas com o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). E quadrilha não tem no seu orçamento como pagar Ecad. A quadrilha não tem como prever isso``, explica Gilberto Rodrigues, que é produtor e apresentador do Festejo Ceará Junino, a principal festa do período aqui no Ceará. As composições próprias não são, porém, a maior preocupação da moçada que se mobiliza para botar suas quadrilhas na rua. ``Se continuar assim, daqui a um tempo a gente não vai mais apresentar quadrilha, vai ser outra coisa``, imagina André. ``Antes, as quadrilhas eram para festejar o São João. Hoje é a encenação``, diz William, num tom que não deixa muito claro se ele lamenta ou aprova a situação atual.


Da metade da década de 1990 pra cá, e a quadrilha Luar do Sertão, do Pirambu (Fortaleza), parece ter sido a primeira a se aventurar nos ``modernismos`` da estilização, os folguedos começaram a explorar outras vestimentas, outros passos, outras possibilidades & tanto que se veem prestes a virarem algo que não quadrilha junina. ``A tendência, agora, é o regresso. A Federação (Federação das Quadrilhas Juninas do Ceará, a Fequajuce) até exige que tenham pelo menos 12 passos tradicionais``, explica André. Não se usa mais chita, os festivais de rua vão rareando, mas muita coisa passa a ser exigida pelas competições no sentido de manter alguma proximidade com aquela quadrilha, aquela, ``de antigamente``.


Fonte: Vida & Arte Cultura

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